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Entrevista25/11/2021
Hugo é Mestre em Ciência da Computação pela Universidade Nova de Lisboa, onde também foi Professor Auxiliar. Antes do SPEAK, o Hugo trabalhou na OutSystems e na Google como engenheiro de software e gestor de produto. À NAU partilhou como o SPEAK, startup de tecnologia social, nasceu e cresceu e o que é ser empreendedor.
Ao longo da entrevista inspira e motiva para a mudança com que todos nós sonhamos.
O SPEAK nasceu porque percebemos que apesar de haver pessoas migrantes em Leiria, não nos cruzávamos com elas. Vivíamos em círculos paralelos de vida. Além disso, tínhamos a experiência de estar no estrangeiro e sentimos, nós mesmos, dificuldade na integração nas cidades onde vivemos. Não só por não falarmos a língua local, mas também por não termos oportunidades de convívio com os residentes locais. Cientes destes desafios, começámos a questionar-nos - Se para nós foi difícil, então, como seria o processo de integração para outras pessoas que atravessam fronteiras por motivos mais sensíveis e num contexto muito mais vulnerável?
Também nos apercebemos em alguns eventos pelo mundo fora que, quando um grupo de pessoas de nacionalidades diferentes se encontra pela primeira vez, é comum surgir curiosidade sobre a língua ou costumes dos demais, assim como vontade de partilhar um pouco da nossa língua ou cultura.
Vimos potencial nesta curiosidade que temos por culturas diferentes da nossa, assim como na necessidade de promover um intercâmbio linguístico que permitisse criar relação entre locais e migrantes que vivem na mesma cidade e combater a exclusão social. Tudo isto aliado à curiosidade sobre o mundo e ao facto de gostarmos de viajar, de línguas, e de diversidade foi o que nos levou até à ideia do SPEAK.
Tivemos desafios em diversas fases do caminho, mas um deles relaciona-se com a resposta anterior: como escalar o impacto do SPEAK de forma rápida e sem custos elevados. Começámos com um processo de crescimento orgânico, em que tínhamos um Gestor de Projecto dedicado a cada cidade e que eventualmente iria gerir diversas cidades. Exigia novas contratações em locais onde não tínhamos uma rede. Por esse motivo, a contratação não era fácil e os custos inerentes eram bastante elevados. Em resumo, era um processo lento e dispendioso. A solução passou por criar um modelo de franchising social em que disponibilizamos a nossa tecnologia, metodologia, treino e mentoria para que qualquer pessoa ou organização comece o projeto na sua cidade. Este modelo compromete a geração de receitas no curto prazo, mas permite escalar impacto de forma eficaz e eficiente.
Acredito que o espírito de empreendedorismo existe em todos nós, no sentido em que há sempre aspetos do mundo que gostaríamos de ver mudar. A génese está lá. No entanto, se há pessoas que nascem com vontade de fazer parte da mudança do que não está bem à sua volta, outras podem não sentir essa necessidade.
Por outras palavras, havendo vontade de fazer acontecer, qualquer pessoa pode ser empreendedora porque as ferramentas e metodologias se aprendem. Sou da opinião de que acreditar no projeto, “pôr as mãos na massa” e estar disposto a aprender mais sobre a área a que nos queremos dedicar são os primeiros passos. A partir daí é preciso apenas tornar a ideia realidade, mesmo face a várias incertezas. Mas acredito que ser capaz de enfrentar o receio de falhar é algo que todos conseguem fazer, ainda que alguns possam ter mais dificuldade em dar os primeiros passos.
Num projeto como o SPEAK foi isso que constatamos. É necessário envolver pessoas, e contagiar os outros com a paixão que temos pela nossa missão. Depois, à medida que os projetos vão crescendo, são necessárias competências complementares, pelo que é importante saber encontrar as pessoas certas, com o conhecimento de que precisamos. É por este motivo que acredito que não precisamos de saber tudo para começarmos um projeto, devemos ter a consciência do que não sabemos e não ter medo de pedir ajuda.
Estou envolvido em projetos sociais desde os meus 15 anos. Sentir que tenho impacto na vida de alguém faz-me sentir apaixonado, útil e vivo. O desafio de viver o terceiro setor a 100% e de escalar impacto social sempre foi um sonho. Na Google, desde o início, que o meu manager sabia da motivação que eu tinha para trabalhar na área social. Ajudou-me e deu-me a oportunidade de desenvolver competências fundamentais para que um dia pudesse dar esse passo.
Naturalmente, a conciliação inicial foi desafiante. Precisamos de estar preparados para o compasso de espera entre o surgimento da ideia e o desenvolvimento das bases do nosso projeto. Durante esse período a conciliação com um emprego é, para muitas pessoas, necessária. Depois de ter uma visão clara e um plano para a implementar chega a hora de dar o grande passo. Quando cheguei a esse momento, deixei a Google por sentir que tinha de arriscar e estar preparado para o fazer. Hoje, o SPEAK é já um projeto em escala e com provas dadas de que pequenas transformações mudam vidas. No entanto, tem, desde cedo, as pessoas, parceiros e características que me deram confiança para almejar a maior escala possível, para a inovação, para o fazer diferente, para a irreverência.
O Social Franchising é um método de expansão para projetos de empreendedorismo social, principalmente focado na criação de impacto social positivo na sociedade. Por outras palavras, é uma adaptação do franchising comercial (focado na geração de lucro) que permite escalar o impacto de negócios sociais com rapidez e sem custos elevados. No SPEAK o Social Franchising permite-nos empoderar os participantes e membros da nossa comunidade para se tornarem eles mesmos agentes de mudança ao implementarem o SPEAK na sua cidade. O nosso Social Franchising, a que chamamos de “Take SPEAK To Your City”, é particularmente direcionado a pessoas que estejam alinhadas com os valores e a missão do SPEAK. Isto é, pessoas apaixonadas pela promoção da compreensão e aceitação da diversidade, pela democratização da aprendizagem de línguas e pela criação de relações positivas entre as pessoas.
Estamos a viver um momento especial no que toca a migrações e nem sempre as políticas governamentais são suficientes para dar resposta aos desafios das grandes vagas migratórias. Por esse motivo, acreditamos que várias cidades precisam de projetos de base comunitária, como o SPEAK, para promover a inclusão social de migrantes. Estando tecnologicamente preparados para escalar o impacto (uma vez que o projeto já era ágil e fácil de replicar) decidimos tornar o SPEAK numa ferramenta acessível a todas as cidades que precisassem dela. Foi assim que, em 2018, lançámos o “Take SPEAK to Your City”, através do qual pessoas a título individual ou organizações aplicam a solução SPEAK à sua cidade, disseminando um sentido de inclusão e uma integração mais ampla nos lugares onde é mais necessário.
O MOOC "The Fundamentals of Social Franchising" foi criado para dotar empreendedores sociais ou entusiastas nesta área das ferramentas necessárias para escalarem o impacto social do seu negócio de forma mais rápida. O curso, criado em parceria com a Católica Lisboa e o programa EPIM (European Programme for Integration and Migration), combina conceitos teóricos de especialistas em empreendedorismo social e a experiência prática que adquirimos ao longo dos anos no SPEAK. O objetivo deste curso é definir o conceito de social entrepreneurship, apresentar os vários modelos que são usados para expandir uma empresa social de forma eficiente, e ajudar a definir a melhor estratégia para cada pessoa. Os inscritos podem pôr em prática o que aprenderam ao implementarem o SPEAK na sua cidade, tendo sempre o nosso apoio, ou escalando o seu próprio negócio social.
No mundo do empreendedorismo vai haver sempre obstáculos, seja apaixonar as primeiras pessoas a acreditar no teu projeto, ou encontrar os investidores certos para o tipo de projeto ou empresa que estás a lançar, ou até uma pandemia que faz parar a economia. O percurso quase nunca vai ser linear. Por isso, o meu primeiro conselho é que procurem sempre analisar os desafios e transformá-los numa possível oportunidade. Segundo, que sejam transparentes. Ser transparente na forma como comunicamos a nossa missão, visão, e o que nos faz querer criar o nosso negócio. Nós todos sabemos que a vida nunca é perfeita e ser transparente no que toca aos desafios e batalhas que enfrentamos apenas nos torna mais humanos e também ajuda a que os outros saibam do apoio que necessitas. O terceiro conselho é que sejam humildes. Para podermos criar conexões com as pessoas à nossa volta e reconhecer as falhas no nosso negócio, a humildade é chave. Só assim se chega longe no nosso negócio.
Falamos com Hugo Menino, CEO e cofundador da SPEAK, sobre os desafios do empreendedorismo. Inspire-se e sinta-se motivado!
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