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ArtigoCiências Exatas e Tecnologias24/10/2025
A informação é essencial para o sucesso de qualquer área. Segundo Carlos Sampaio, no artigo Dados são o novo petróleo. Quão segura está essa nova riqueza? (2024), os dados tornaram-se um recurso estratégico do século XXI, tão valioso quanto o petróleo no passado. Quem os souber recolher e interpretar consegue tomar decisões mais acertadas e identificar oportunidades de crescimento.
O verdadeiro valor surge quando os dados são organizados e analisados, transformando-se em insights capazes de inovar processos, antecipar problemas e criar soluções mais adaptadas. Mas trabalhar com dados traz responsabilidades: é preciso pensar na privacidade, segurança e qualidade da informação, garantindo um uso ético e responsável dos mesmos.
De acordo com a empresa SAS, em Big Data Insights, este conceito ganhou destaque no início dos anos 2000, quando Doug Laney definiu os três V’s que o caracterizam: volume, referente à enorme quantidade de dados gerados por diversas fontes, como transações, dispositivos IoT (Internet das Coisas), vídeos e redes sociais; velocidade, relacionada à rapidez com que esses dados são produzidos e precisam ser processados, especialmente em contextos de tempo real; e variedade, que diz respeito à multiplicidade de formatos - desde dados estruturados e numéricos até conteúdos não estruturados como textos, áudios e vídeos.
Segundo o Google Cloud, o facto de estes dados crescerem de forma exponencial faz com que os sistemas tradicionais não sejam capazes de os gerir de forma eficaz. Este crescimento é impulsionado por tecnologias como a Internet das Coisas (IoT) e Inteligência Artificial (IA), que geram volumes cada vez maiores e mais complexos. Esta combinação de fatores reflete a sua complexidade e potencial estratégico para as organizações. Para lidar com esta mesma complexidade, têm sido desenvolvidas ferramentas e plataformas que permitem recolher, processar e analisar dados em tempo real, extraindo valor e conhecimento útil.
O Big Data pode trazer vantagens claras. Permite que as empresas e organizações se tornem verdadeiramente orientadas por dados, identificando padrões, tendências e comportamentos que apoiam decisões mais informadas e estratégicas. Também contribui para uma maior agilidade e inovação, permitindo rápida adaptação às mudanças do mercado e acelerar o desenvolvimento de novos produtos e serviços.
Outro ponto essencial é a experiência do cliente. Ao combinar dados de diferentes fontes, as empresas conseguem compreender melhor comportamentos e preferências, oferecendo experiências mais personalizadas. Além disso, o Big Data ajuda a otimizar processos, reduzir custos, gerir riscos e identificar oportunidades de crescimento, tornando as organizações mais resilientes e competitivas.
Relatórios da McKinsey indicam que empresas que utilizam dados de forma estratégica têm 23 vezes mais probabilidades de conquistar novos clientes e podem aumentar as margens operacionais em até 60%. Já a consultora BARC identifica num dos seus estudos que, ao investir em Big Data, as empresas podem melhorar a tomada de decisão estratégica em 69%, aumentar o controlo dos processos operacionais em cerca de 54% e melhorar a compreensão dos clientes em 52%.
De salientar que estas vantagens e benefícios podem ser abrangentes, não apenas aplicáveis em setores privados ou mais direcionados para as áreas da economia e/ou finanças, mas também para as áreas da saúde, educação, transportes, assim como comunicação e media.
Os riscos éticos, sociais e ambientais associados ao uso indevido de dados também não devem ser descurados. Um dos casos mais paradigmáticos desta dimensão foi o escândalo da Cambridge Analytica, em 2018, onde dados pessoais de milhões de utilizadores foram recolhidos sem consentimento explícito e usados para influenciar campanhas políticas, incluindo as eleições presidenciais dos Estados Unidos e o referendo do Brexit. Este fenómeno abriu uma caixa de Pandora que evidencia como a manipulação de grandes volumes de informação pode afetar a privacidade individual (e, até mesmo, processos democráticos).
Mais recentemente, a Meta (empresa-mãe do Facebook) tem enfrentado novas críticas e sanções relacionadas com práticas de recolha e utilização de dados. Em 2023, a Comissão de Proteção de Dados da Irlanda multou a Meta em 390 milhões de euros por violações do Regulação Geral de Proteção de Dados (RGPD), proibindo a empresa usar dados pessoais de utilizadores na União Europeia para anúncios personalizados. Já em 2025, a dona do Facebook e Instagram anunciou que iria começar a usar publicações públicas, comentários e interações de utilizadores com mais de 18 destas redes sociais para treinar modelos de Inteligência Artificial. Uma decisão que inquietou vários utilizadores, levantando questões sobre este uso de dados por parte do Comité Europeu para a Proteção de Dados (EDPB).
Estas situações, cuja grande atenção mediática trouxe a temática dos dados para o centro do debate público, demonstram que os desafios do Big Data não se limitam às dimensões técnicas e operacionais: estendem-se também ao domínio ético, jurídico e social. As empresas e organizações que pretendem tirar partido do potencial dos dados devem fazê-lo de forma a assegurar a privacidade, segurança e transparência em todas as fases do ciclo de vida da informação.
Outro desafio que, por vezes, não é tão recordado, prende-se com o facto de que uma parte considerável dos dados armazenados não ter qualquer utilidade prática, representando um desperdício significativo de recursos e um impacto ambiental relevante. Estima-se que cerca de 52% dos dados guardados sejam considerados “dados inúteis” ou sem valor definido, que continuam a ocupar espaço em servidores e centros de dados sem trazer benefícios reais às empresas. Este armazenamento desnecessário não só aumenta os custos operacionais, como também contribui para maiores emissões de carbono, uma vez que os data centers consomem grandes quantidades de energia para manter a infraestrutura ativa e refrigerada.
O volume global de dados digitais deverá crescer de 33 para 175 zetabytes até 2025, em grande parte devido à acumulação deste tipo de informação redundante. Só os chamados dados inúteis podem gerar, anualmente, milhões de toneladas de emissões de carbono - o que exigiria áreas florestais imensas para poderem ser compensadas. O problema é agravado pelo aumento do trabalho remoto e pela utilização de múltiplas plataformas digitais, que favorecem a duplicação e a dispersão de ficheiros.
Perante este cenário, sublinha-se a importância de as organizações e empresas adotarem políticas eficazes de gestão e eliminação de dados, definindo critérios claros sobre o que deve ser guardado e durante quanto tempo. A adoção de práticas como a classificação da informação, a deduplicação e auditorias regulares aos sistemas pode reduzir substancialmente os custos e a pegada ambiental associados ao armazenamento digital.
Para que estas boas práticas na recolha e tratamento de dados seja, a formação é crucial. O Instituto Politécnico de Lisboa disponibiliza, através da Plataforma NAU, cursos online gratuitos para quem quer dar os primeiros passos no mundo dos dados.
Os cursos “Fundamentos de Bases de Dados” e “Estruturas de Dados” abordam os fundamentos básicos necessários para compreender e aplicar os princípios do Big Data. Em “Fundamentos de Bases de Dados”, os estudantes aprendem a organizar e consultar informação de forma eficiente; já em “Estruturas de Dados”, irão abordar métodos para armazenar e aceder à informação de modo otimizado. Estas formações podem ser o ponto de partida para áreas mais avançadas, como Ciência de Dados, Análise de Dados e Inteligência Artificial, preparando profissionais capazes de atuar num mundo onde a informação é o motor da economia digital.
A NAU é cofinanciada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
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