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ArticleArts and CultureTraining and Education08/09/2025
Desde o século XV, pensadores como Alberti já defendiam que a arte deveria ser vista como uma prática intelectual, e não apenas manual. Esta valorização viria a influenciar profundamente o ensino artístico, dando origem a academias onde o pensamento criativo ganhava espaço ao lado da técnica.
Em Portugal, essa transformação foi se afirmando ao longo dos séculos, moldada por contextos sociais e políticos. O marco institucional mais relevante deu-se em 1836, com a criação da Academia de Belas-Artes de Lisboa. Esta instituição evoluiu ao longo do tempo, tornando-se a Escola Superior de Belas-Artes no século XX e, desde 1992, integrando a Universidade de Lisboa como Faculdade de Belas-Artes. Hoje, oferece formação em áreas como Arte Multimédia, Curadoria, Design de Comunicação e Ciências da Arte.
Outro ponto decisivo foi a reforma do Conservatório Nacional em 1983, que deu origem a três escolas superiores especializadas: a Escola Superior de Música de Lisboa (ESML), a Escola Superior de Dança (ESD) e a Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC). Esta mudança integrou o ensino artístico profissional no sistema politécnico, unindo prática, técnica e pensamento crítico.
A ESML, criada em 1983 e integrada no Instituto Politécnico de Lisboa em 1985, oferece formação na área da música, aliando tradição e inovação pedagógica, com forte projeção artística e internacional. A ESD, com raízes no ensino da dança desde o século XIX, aposta numa formação prática e interdisciplinar, preparando tanto artistas como professores. A ESTC, por sua vez, continuou a tradição do teatro e foi pioneira no ensino público de cinema, através de um curso que se tornou oficial após o 25 de Abril e que hoje tem projeção internacional.
Ao longo dos anos 80 do Séc. XX, também foram sendo implementados regimes especializados artísticos para os ensinos básico e secundário, como é o caso do ensino articulado, em 1984, e a criação de escolas profissionais de música, em 1989. Estes regimes foram evoluindo e expandindo ao longo das décadas, colmatando na formação de cursos especializados e cursos profissionais autónomos em Agrupamentos de Escolas, em 2010.
Assim, o ensino artístico em Portugal foi-se consolidando num sistema diverso e especializado, que une tradição e inovação, contribuindo de forma decisiva para o panorama cultural e educativo do país.
A educação artística na escolaridade obrigatória - particularmente a promovida por escolas artísticas e currículos integrados - representa um espaço único de desenvolvimento criativo que atua além da lógica tradicional de ensino. Segundo a Associação de Professores da Educação Artística na Escolaridade (APEVT), esta área curricular é essencial para promover "o desenvolvimento da perceção visual, construindo a sensibilidade estética" e permitir experiências que moldam os referenciais de conhecimento dos alunos.
Ao explorar materiais, formas e sons, os alunos constroem referências visuais e sensoriais que enriquecem o seu entendimento do mundo. Elliot Eisner, citado nesse mesmo texto, reforça que “aquilo que a criança aprende baseia‑se, sobretudo, naquilo que ela teve oportunidade de experimentar”. A teoria das inteligências múltiplas de Howard Gardner, também realçada pela APEVT, indicam que existem várias formas de inteligência, desde a visual‑espacial, à musical, ou corporal‑cinestésica, demonstrando que é fundamental diversificar as aprendizagens para valorizar cada perfil de aluno.
Assim sendo, as escolas artísticas oferecem não apenas conhecimentos técnicos, mas um ambiente educativo capaz de reconhecer diferentes inteligências, fomentar a criatividade, o pensamento crítico e favorecer o desenvolvimento social, emocional e cognitivo dos jovens talentos.
Em contexto escolar, projetos curriculares e extracurriculares que integrem artes, revelam impactos pessoais e sociais apreciáveis. Um estudo sobre um projeto de escultura promovido numa escola secundária de Castelo Branco concluiu que alunos e professores o consideram "muito significativo na sua evolução pessoal, social e cultural", contribuindo para o desenvolvimento de competências sociais e atitude colaborativa.
Paralelamente, os dados nacionais sobre práticas culturais indicam que cerca de 17 % dos jovens entre os 15 e os 19 anos dedicam tempo semanalmente a atividades artísticas amadoras, usando tanto meios digitais como tradicionais. Estes dados constam do Inquérito às Práticas Culturais dos Portugueses, coordenado pelo Observatório Permanente da Juventude do ICS-ULisboa, destacando também que estas práticas estão associadas a experiências artísticas iniciadas na escola e tendem a prolongar-se na vida adulta.
Contudo, segundo noticia a RTP em março deste ano, o acesso desigual ao ensino especializado, especialmente nas regiões do interior, continua a impedir que muitos jovens talentosos acedam gratuitamente a esta formação. Famílias com menos recursos acabam por desistir ou suportar encargos que condicionam a igualdade de oportunidade.
O ensino artístico em Portugal tem raízes históricas e pioneirismo na integração formal, mas o seu crescimento enfrenta desafios persistentes de cobertura territorial, estigma social e lacunas no mercado cultural. Apesar disso, a formação artística continua a ter impacto positivo no desenvolvimento dos jovens, sobretudo quando promovida em ambiente escolar estruturado.
Iniciativas como a Plataforma NAU, ao disponibilizarem formação aberta e acessível, podem contribuir para democratizar o acesso ao conhecimento artístico e reforçar a literacia cultural em contextos educativos. Um desses exemplos é a APECV (Associação de Professores de Expressão e Comunicação Visual), um dos parceiros da NAU cuja missão se centra na promoção da educação artística de qualidade em contextos de aprendizagens diversificados.
O seu mais recente curso, “Processos artísticos em contextos educativos”, aborda didáticas específicas de educação artística e de educação com processos artísticos na área das artes visuais. No final do curso, os formandos adquirirão competências para criar ambientes de aprendizagem com processos artísticos, compreender pontos de vista sobre pedagogia da educação artística e partilhar práticas de educação artística online de forma reflexiva. O curso é totalmente gratuito, bem como a obtenção de certificado final, e tem uma taxa de esforço estimada de 6 horas, ao ritmo do estudante. As inscrições estão abertas até dezembro de 2025.
A NAU é cofinanciada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
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