21/05/2025
A Internet é, simultaneamente, um espelho e um amplificador das dinâmicas culturais contemporâneas. Como refere a UNESCO, no Artigo 3.º da Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, "a diversidade cultural amplia as possibilidades de escolha que se oferecem a todos; ela é uma das fontes do desenvolvimento, entendido não apenas em termos de crescimento económico, mas também como meio de acesso a uma existência intelectual, afetiva, moral e espiritual satisfatória".
Neste sentido, o espaço digital tem potencial para democratizar o acesso à produção e difusão cultural. Ferramentas como redes sociais, repositórios colaborativos, plataformas de vídeo e fóruns online permitem que comunidades minoritárias partilhem as suas expressões culturais com o mundo, contribuindo para a visibilidade de culturas frequentemente marginalizadas nos meios tradicionais.
Contudo, vários especialistas alertam para os riscos da “digestão cultural” nas plataformas globais. Como refere um artigo do Cursus (2023), “as culturas locais correm o risco de serem reduzidas a estereótipos ou tornarem-se invisíveis sob o peso dos algoritmos que priorizam o conteúdo mais popular ou rentável”. Esta dinâmica pode levar à homogeneização dos discursos culturais e ao silenciamento de vozes dissidentes ou culturalmente alternativas.
Embora a Internet promova o contacto entre culturas, também tem sido um campo fértil para a disseminação de discursos de ódio e desinformação. De acordo com o relatório "Discurso de Ódio e Imigração em Portugal"
(2025), publicado pela Casa do Brasil de Lisboa no âmbito do projeto MigraMyths, 79,8% das pessoas migrantes inquiridas afirmaram já ter sofrido discurso de ódio online em Portugal, especialmente em plataformas como Instagram (36,9%) e Facebook (26,3%).
Este fenómeno reforça a urgência de desenvolver competências digitais críticas e uma literacia intercultural robusta, que permita aos cidadãos distinguir informação fidedigna, interpretar contextos culturais distintos e rejeitar narrativas discriminatórias.
Apesar dos riscos associados ao discurso de ódio, a Internet tem sido também, por outro lado, uma ferramenta importante para promover o diálogo entre culturas. Através de plataformas digitais e projetos colaborativos, é possível aproximar comunidades, incentivar o respeito mútuo e reforçar a tolerância e coesão social.
Um exemplo é o projeto eTwinning, uma iniciativa da Comissão Europeia que promove a criação de redes de trabalho colaborativo, entre escolas europeias, com recurso às TIC. Este projeto visa desenvolver o espírito de cidadania europeia e de sociedade multilingue e multicultural, proporcionando apoio, ferramentas e serviços para educadores.
Além disso, organizações como a Intercultura-AFS Portugal têm utilizado a Internet para promover a aprendizagem intercultural. Esta associação sem fins lucrativos trabalha na área da educação não-formal para uma aprendizagem intercultural e educação global, promovendo intercâmbios nacionais e internacionais com jovens, famílias e professores, instituições e comunidade em geral.
A Internet tem o potencial de ser uma poderosa aliada na promoção da diversidade cultural e da tolerância. Contudo, também exige vigilância ativa, literacia crítica e compromisso com os valores da equidade e do respeito pela diferença. Os cursos oferecidos pelo Instituto Nacional de Administração (INA) através da plataforma NAU constituem exemplos práticos de como a educação digital pode contribuir para uma cidadania mais consciente e intercultural. Neste Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento, a aposta na formação é, mais do que nunca, um gesto de cidadania ativa e responsável.
Com o objetivo de capacitar a Administração Pública e a sociedade civil para responder aos desafios da diversidade e da inclusão, o INA, em colaboração com a Agência para a Integração, Migração e Asilo (AIMA) e a Comissão para a Igualdade e Descriminação Racial (CICDR), disponibiliza na na NAU dois cursos fundamentais:
Este curso, gratuito e acessível a qualquer cidadão, fornece ferramentas essenciais para compreender o racismo estrutural e identificar práticas discriminatórias, quer a nível institucional quer no quotidiano. Segundo o INA, o curso “contribui para o desenvolvimento de uma cultura institucional promotora da igualdade e do respeito pelos direitos humanos”. A formação tem uma taxa de esforço estimada de 4 horas, ao ritmo do estudante, e as inscrições estão abertas até dezembro de 2025.
Por sua vez, este curso propõe-se a desenvolver competências pessoais e profissionais para a comunicação e colaboração em contextos culturalmente diversos. Os participantes são desafiados a refletir sobre os seus próprios preconceitos e a adquirir estratégias de gestão da diversidade cultural no ambiente de trabalho e na sociedade. Como se lê na apresentação do curso, “o reforço da interculturalidade é essencial para construir ambientes mais justos, cooperativos e inclusivos”. Tal como a formação anterior, tem uma taxa de esforço estimada de 4 horas, ao ritmo do estudante, e as inscrições estão abertas até dezembro de 2025.
A NAU é cofinanciada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
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