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ArtigoHumanas e Políticas24/03/2025
Foi a 8 de maio de 1987 que a Assembleia da República Portuguesa estabeleceu o dia 24 de março como Dia Nacional do Estudante. O decreto (n.º 77/IV) consagra a data, tendo como objetivos "o estímulo à participação dos estudantes na vida escolar e da sociedade" e a "cooperação e convivência entre os estudantes".
O decreto destaca ainda como metas "a democratização e o desenvolvimento do ensino", bem como "a ligação dos estudantes com a comunidade". A data assinala também o papel dos estudantes na mudança social, nomeadamente em Portugal, através de momentos como o regime do Estado Novo em 1962, a Crise Académica de 1969 ou os protestos de 1992.
Em todo o mundo, durante os séculos XX e XI, os estudantes deram provas da sua capacidade para lutar e alcançar a mudança. Recordamos aqui alguns dos principais exemplos.
Em maio de 1968, França foi palco de um dos movimentos sociais mais marcantes do século, que em determinado momento levou mais de 10 milhões de cidadãos à greve. A crise teve origem na revolta estudantil, quando os alunos da Universidade de Nanterre exigiram uma maior abertura e modernização da instituição. Como resposta, o reitor optou por encerrar a universidade, desencadeando assim uma série de manifestações.
O conflito estendeu-se rapidamente para a Universidade de Sorbonne, onde, numa situação semelhante, a instituição foi também fechada. A ação policial, marcada pela violência e múltiplas detenções, intensificou ainda mais o clima de agitação. No dia 10 de maio, os estudantes passaram a reclamar com vigor a reabertura do campus e a libertação dos colegas detidos.
Aquela noite, que ficou conhecida como a “Noite das Barricadas”, viu cerca de 40 mil estudantes confrontarem a polícia numa série de combates que se prolongaram até ao amanhecer. Este episódio transformou um movimento inicialmente restrito aos estudantes num levante de âmbito nacional, inspirando milhões de trabalhadores a aderir à greve e, em alguns casos, a ocupar as suas fábricas.
O movimento só começou a perder força após o Presidente Charles de Gaulle vencer as eleições antecipadas que ele próprio havia convocado. Contudo, como assinala Peter Steinfels no The New York Times, a memória de 1968 perdura: “não se apontava à perfeição humana, apenas se imaginava que a vida poderia ser diferente e bastante melhor”.
A Crise Académica de 1962 foi um dos momentos mais marcantes da luta estudantil contra o regime do Estado Novo em Portugal. O conflito começou em fevereiro, após o governo proibir as comemorações do Dia do Estudante. Em resposta, os estudantes organizaram manifestações e greves nas universidades, exigindo maior liberdade de expressão e autonomia académica. A repressão foi violenta, com cargas policiais, prisões e encerramento de associações estudantis. Apesar da brutalidade do regime, a crise fortaleceu a oposição estudantil e serviu como um importante marco na resistência contra a ditadura.
Sete anos depois, em 1969, os estudantes da Universidade de Coimbra protagonizaram novos protestos, desta vez impulsionados pela recusa do Presidente da República, Américo Thomaz, em ouvir as suas reivindicações durante uma visita à cidade. O movimento, mais tarde conhecido como a Luta das “Capas Negras”, ganhou força quando a eleição para a Associação Académica de Coimbra foi anulada pelo governo. As manifestações escalaram, com milhares de estudantes a boicotar aulas e a enfrentar a repressão policial. A resposta das autoridades foi dura, resultando em detenções, agressões e um clima de grande tensão na universidade. Este episódio reforçou o desgaste do regime e ajudou a consolidar a oposição que, poucos anos depois, culminaria na Revolução de 25 de Abril de 1974.
No dia 18 de abril de 1989, estudantes escolheram a Praça Tiananmen para dar início a manifestações que exigiam uma abertura democrática no governo chinês. Ao longo de maio, a mobilização cresceu de forma exponencial, atraindo milhares de participantes que se uniram aos protestos.
A tensão culminou na madrugada de 4 de junho, quando, por volta da uma, tropas chinesas invadiram a Praça Tiananmen. Durante o dia, disparos foram efetuados contra estudantes e cidadãos, num episódio marcado pela ausência de uma contagem oficial de vítimas fatais.Dez anos mais tarde, o New York Times recordava que, "sem informação sólida, os jornalistas recorrem sempre à mesma frase: 'centenas, talvez milhares' foram assassinados".
A imagem mais icónica de Tiananmen mostra um manifestante que, sozinho, bloqueia o percurso de uma coluna de tanques. O autor Ma Jian, que esteve presente nos protestos, classificou-os no jornal The Guardian como "um momento definidor para a [sua] geração", destacando "a nobreza das aspirações dos manifestantes e o poder duradouro do seu legado".
A 17 de novembro de 1989, em Praga, 15 mil estudantes organizaram uma manifestação pacífica em homenagem a Jan Opletal, um estudante assassinado pelo exército nazi em 1939.De acordo com o relato da Rádio Praha, os manifestantes desobedeceram às ordens do governo comunista, avançando até ao centro da cidade e criticando abertamente as políticas do regime.
A reação por parte das forças policiais foi brutal, o que deu origem a um movimento de grande escala que se prolongou até ao final do ano, culminando em uma transformação profunda na Checoslováquia. Nos dias seguintes, formou-se o Fórum Cívico, que reuniu opositores antes dispersos e aproveitou a fraqueza do governo. O número de participantes aumentou, com novas manifestações e uma greve geral.
Em 29 de dezembro, dois meses após o início dos protestos, o escritor Václav Havel, laureado com o Prémio Nobel da Literatura, foi eleito Presidente da Checoslováquia.
Em maio de 2011, os estudantes chilenos deram início à primeira de uma série de intensas manifestações, com o objetivo declarado pela líder do movimento, Camila Vallejo: “recuperar a educação pública e regular o ensino privado”.
Seguiram-se várias manifestações e a ocupação de universidades e liceus. Em meados de junho, 80 mil estudantes manifestaram-se em frente à sede da presidência, reclamando ensino superior gratuito. Os protestos e ocupações estenderam-se até 2013. Com a vitória de Michelle Bachelet, em 2013, chegaria a promessa da Presidente: estabelecer um sistema de ensino superior gratuito, no prazo de seis anos.
As manifestações do "Inverno Chileno" estão na base da introdução do regime de "gratuidad", ao abrigo do qual cerca de 50% dos estudantes de famílias com menores rendimentos não pagam propinas.De acordo com a BBC, mais de 300 mil estudantes beneficiam deste apoio. Contudo, "isto não significa que o sistema universitário tenha deixado de ser socialmente divisivo", destaca a BBC, salientando os problemas de financiamento e de acesso que estão ainda por resolver.
O movimento de Greve Estudantil pelo Clima começou com a estudante sueca Greta Thunberg e um cartaz. Cerca de meio ano depois, em março de 2019, por todo o país, milhares de estudantes portugueses empunharam mensagens como "Não há um Planeta B". O movimento de estudantes assume como objetivo "tornar a mudança climática uma prioridade governamental" e promete continuar, até serem alcançados resultados concretos.
Este é um movimento que continua até aos dias de hoje, com Greves Climáticas Globais a ter lugar anualmente e com protesto agendados um pouco por todo o mundo. Desde que os protestos se iniciaram, explica a Euronews, as emissões de carbono das economias avançadas e industrializadas tem estado em queda e, em 2023, foram as mais baixas em 50 anos.
Nos últimos cinco anos, avança a mesma fonte, as fontes de energia limpa cresceram duas vezes mais rápido do que as alimentadas por combustíveis fosséis. Contudo, nos 6 anos desde que Greta Thunberg iniciou o seu protesto, as temperaturas no planeta aumentaram 0.29 graus, com o ano de 2024 a ser considerado o mais quente de sempre.
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