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Interview08/24/2021
[TE] A APECV é uma associação de professores de artes visuais, educadores e artistas, ativistas de Portugal. Uma das suas missões é a investigação sobre a educação artística, o que engloba contextos educativos tanto formais como as escolas como informais como por exemplo projetos de âmbito comunitário onde as artes são um meio para desenvolver capacidades de transformação social. Nesse sentido temos vindo a desenvolver um plano de formação para professores, educadores e artistas que se interessam em projetos comunitários onde as artes podem ser um fator de inclusão e criar oportunidades para construir ferramentas de visibilidade e emancipação social. Fazemos parte de redes internacionais como a International Society for Education Through Art ( InSEA) e a World Alliance for Arts Education e através dessas redes demo-nos conta de que estes são temas muito importantes para os educadores e professores artísticos na Europa. Em 2019 co- organizamos uma conferência da InSEA em Malta onde o tópico foi precisamente educação artística conflitos e conexões ( https://www.insea.org/InSEA-Malta-seminar-2019).
Nessa conferência conhecemos várias pessoas que nos disseram que fazia falta plataformas de formação entre pares sobre projetos comunitários sobretudo para ativistas e trabalhadores culturais em zonas de conflito. A jovem Albane Muriel levou os seus comentários mais longe desafiando-nos a construir um MOOC nesta área de trabalho.
Durante os dois anos seguintes, Albane, a sua equipa dos Ateliers du Rêve e a equipa da APECV pesquisaram possibilidades e parcerias para tornar o MOOC possível. Sendo a APECV uma organização ligada à World Alliance for Arts Education teria todo o sentido convidá-los para nos validarem o curso. A Plataforma Nau surgiu na nossa pesquisa de plataformas como a mais inovadora e aberta para acolher este desafio.
[AB] Os participantes do MOOC irão em primeiro lugar descobrir como funciona a ajuda humanitária de emergência, quais as suas tensões e questões atuais. E irão, também, aprender algumas noções básicas sobre a arte e as suas utilizações.
Esta introdução é importante porque temos diferentes perfis de participantes, alguns dos quais não estão familiarizados com o trabalho humanitário. Assim, os participantes poderão descobrir os diferentes tipos de programas que incluem atividades artísticas na ajuda humanitária de emergência. O nosso objetivo é apresentar um panorama que visa abrir portas a práticas que não são muito conhecidas.
Finalmente, propomos uma parte mais "reflexiva" sobre a avaliação das atividades e programas.
[AB] Neste MOOC apresentamos os diferentes programas artísticos que existem na ajuda humanitária de emergência, seja em catástrofes naturais ou em zonas de conflito armado. Entre eles, distinguimos programas com foco na "saúde" e programas com foco na "cultura".
Nas abordagens baseadas na saúde, falamos de atividades como terapia artística, saúde mental ou apoio psicossocial. Nas abordagens baseadas na cultura (ou educação, conforme o caso), pode-se encontrar principalmente educação não formal, programas de mediação cultural, campanhas de sensibilização ou programas de manutenção da paz. É necessário lembrar que os vários tipos de atividades são frequentemente combinadas. Além disso, o MOOC visa clarificar e definir os pormenores que permanecem no trabalho humanitário de emergência e às nuances destas diferentes utilizações.
Em relação ao "momento ideal", pergunto-me se ele existe. Estamos em programas humanitários de emergência e não em programas de solidariedade "de desenvolvimento". A emergência nunca é um momento ideal. Por outro lado, existem oportunidades e caminhos para a ação. No MOOC, vamos definir a emergência e os "tempos de emergência".
[AB] Claro, a arte pode "promover o bem-estar" de muitas maneiras e em diferentes contextos. A arte pode apagar parte do estigma da guerra a ponto de ser uma ferramenta de manutenção da paz. No entanto, é necessário e mesmo essencial lembrar que isso só pode ser feito em determinadas condições: tanto ao nível do conteúdo artístico das atividades propostas como nas competências e qualidades relacionais das pessoas que rodeiam os participantes. Alguns dos apresentadores do MOOC apresentarão experiências que funcionaram e outras que os emocionaram.
Vi trabalhos muito bonitos. Uma menina refugiada de 4 a 5 anos, que raramente falava durante os nossos workshops num período de mais ou menos um ano, revelou-se com uma máscara de "coelho" que fez. Também vi crianças a tocar num pincel e a pintar pela primeira vez. Eles ficaram maravilhados com o poder de colocar cores no papel. Foi muito comovente. Percebi muitas coisas positivas como satisfação, franqueza, autoconfiança e principalmente cooperação.
[AB] Existem muitos desafios para trabalhar em zonas de conflito. Deve ser definido caso a caso: há motivos pessoais ou mesmo íntimos e outros mais sociais ou mesmo culturais e geopolíticos. As zonas de conflito têm várias facetas. É possível haver grandes restrições relacionadas à segurança e à ansiedade, pois existe a necessidade de atender às necessidades urgentes da população. Diria que o maior desafio, e isto é dito várias vezes no MOOC, é o paradoxo da urgência imediata e da necessidade de adaptação e de ter em conta as necessidades reais e se possível de forma participativa. Ambas constantemente em tensão.
[AB] São muitos os obstáculos ao uso da arte nas nossas áreas e uma certa invisibilidade das práticas existentes. As razões são muitas: em primeiro lugar, o desconhecimento dos diferentes usos da arte. A arte é frequentemente confundida com atividades de entretenimento, como colorir ou "desenhos grátis"; em segundo lugar, falta estruturação das atividades e formação específica dos profissionais da área; em terceiro lugar, doadores e ONGs têm dificuldade em justificar a implementação de tais programas e avaliar os resultados ou mesmo os impactos das atividades artísticas. Este último elemento é um obstáculo considerável ao desenvolvimento de programas em grande escala.
[TE] Trabalhar em zonas de conflito, ser voluntário em ONGs que operam em zonas de conflito, ou desenhar projetos com comunidades que vivem nesse tipo de contextos requer metodologias únicas que dependem do contexto em questão e das ajudas disponíveis. Conhecer o trabalho de outros, entender quais os seus problemas, como ultrapassaram obstáculos, como superam dificuldades de relacionamento, como projetaram os seus programas de campo, é sempre uma mais valia para poder desenvolver capacidades e conhecimentos que nos possam equipar para desenhar, implementar, desenvolver, e avaliar outros projetos.
[AB] Este MOOC destina-se a ser acessível a profissionais humanitários e de arte. Com base em cerca de vinte entrevistas, é animado pelos depoimentos de profissionais, especialistas e investigadores nas diferentes disciplinas que integram o MOOC ao longo dos módulos. O interesse do MOOC é oferecer um panorama diversificado dos usos da arte na ajuda humanitária emergencial.
Portanto, aprendemos com uma variedade de ambientes de prática muito diferentes! Longe de ser apenas teórico, o MOOC é também um local onde os participantes podem refletir sobre a sua prática e encontrar novas ideias para a enriquecer. Haverá espaços de discussão para dar continuidade às reflexões iniciadas pelos palestrantes do MOOC.
Inscreva-se no curso Arts, Armed Conflict and Humanitarian Aid que começa no dia 15 de Setembro e termina no dia 25 de Fevereiro: https://www.nau.edu.pt/en/course/arts-armed-conflict-and-humanitarian-aid/
A plataforma NAU é um serviço gerido pela unidade FCCN da Fundação da Ciência e a Tecnologia (FCT)
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