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ArticleArts and Culture04/23/2025
À medida que a tecnologia evolui, evoluem também os nossos hábitos. Numa altura em que o tempo despendido a consumir digitalmente conteúdos em formato vídeo ultrapassou a média das 3 horas e 22 minutos diárias, qual o lugar ocupado pela leitura?
Os dados parecem evidenciar um decréscimo da leitura ao longo do século XXI correlacionado com os hábitos das novas gerações. Nos Estados Unidos, por exemplo, de acordo com um estudo sobre a realidade norte-americana, em 2023, apenas 14% dos adolescentes de 13 anos relataram ler por prazer quase todos os dias. Em 2020, este valor fixava-se nos 17%. Em 2012, rondava os 27%.
De acordo com o The Guardian, a realidade no Reino Unido é semelhante – em 2024, apenas 34.6% dos jovens entre os 8 e os 18 anos dizem ler por prazer, o que representa um decréscimo de 8.8% face ao ano anterior.
De acordo com a Associação Americana de Psicologia, parece existir uma substituição de hábitos de entretenimento. Um em cada três adolescentes não leu um livro por prazer, ao longo do último ano, avança este organismo: “Em anos recentes, menos de 20% dos adolescentes dizem ter lido um livro, revista ou jornal diariamente por prazer, enquanto mais de 80% dizem utilizar redes sociais todos os dias”.
Estes dados não expressam, contudo, um cenário representativo. Os jovens e as redes sociais têm sido responsáveis pela “explosão” mais significativa no mercado dos livros nos últimos anos. Um dos principais responsáveis por esta revitalização é o fenómeno do BookTok, que consiste na partilha de experiências de leitura, troca de opiniões e sugestões através da rede social TikTok.
De acordo com o semanário Expresso, esta tendência fez com que “o mercado do livro em Portugal tenha sido o que mais cresceu na Europa em 2022”. Um fenómeno que não passou despercebido às editoras e entidades portuguesas. A Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) notou que 2022 registou um aumento na venda de livros de 12,8% face ao ano anterior.
A verdade é que há sinais de crescimento no mercado livreiro. O estudo Hábitos de Compra e Leitura de Livros, publicado pela APEL, registou-se, entre 2023 e 2022, um aumento de 3% na quantidade de portugueses que comprou livros, com a percentagem a fixar-se agora nos 65%. Outra investigação da APEL mostra que o segmento entre os 15 e os 34 anos foi o que mais cresceu em 2022, com um aumento de 44% face ao ano anterior. Ao olharmos para um universo mais amplo, segundo a APEL, 7 em cada 10 portugueses dizem ter hábitos de leitura. Em média, os portugueses leem 5,6 livros por ano, sendo o romance o género predileto.
Depois de um momento de quebra em 2020, motivado pela pandemia, o mercado livreiro em Portugal tem vindo a apresentar um crescimento constante, alcançando 175 milhões em 2022 e subindo para 187 milhões em 2023. Os livros digitais têm sido responsável, em parte, por esse crescimento, com uma subida de 2% em 2023, face ao ano anterior. Contudo, em 2023, 97% dos leitores ainda optaram pelo formato físico. Em Portugal, o mercado caracteriza-se pela existência de grandes grupos editoriais. Apenas cerca de 12% do mercado livreiro é constituído por livrarias independentes.
A emergência de tecnologias de Inteligência Artificial tem colocado vários desafios, uma vez que o treino de modelos de Inteligência Artifical (IA) pode recorrer a obras protegidas por direitos de autor. O autor Richard Osman, por exemplo, apelou a todos os escritores que contestassem o alegado uso da Meta de obras protegidas por direitos de autor para treinar a sua tecnologia de IA. “Se querem utilizar o trabalho de um autor necessitam de pedir permissão”, sublinhou, destacando: “Se usam sem permissão, estão a violar a lei. É muito simples”.
Em contraste, o diretor da empresa tecnológica Cyber GRC destaca na Forbes “7 formas como a Inteligência Artificial vai impactar autores e a indústria da publicação”, realçando, desde logo, como as ferramentas de IA podem apoiar tarefas de pesquisa e edição. Por outro lado, acrescenta, estas tecnologias vão “simplificar a criação, distribuição e consumo de conteúdo”. Por fim, haverá uma maior necessidade de “possuir uma voz” distintiva, bem como um maior risco de “dependência destas ferramentas”.
O equilíbrio entre estas duas dimensões poderá ser alcançado, escreve o The Guardian, seguindo o exemplo da indústria de Hollywood em que “os escritores triunfaram sobre a Inteligência Artificial”. Foi celebrado um acordo que “permite a utilização de IA como uma ferramenta e não como um substituto. “Poderá ser um modelo para outras indústrias”, realça o artigo.
Esta procura de equilíbrio é também bem plasmada num estudo de 2023 realizado pelo The Authors Guild, que procurava entender como os escritores nos EUA estão a utilizar e a reagir ao avanço das tecnologias de Inteligência Artificial Generativa. Apenas 23% dos escritores disseram usar IA generativa no seu processo de escrita, sendo mais frequentemente usada como ferramenta de revisão gramatical (47%), para brainstorming (29%) e para marketing (26%). Apenas 7% usam IA para gerar texto criativo, e desses, quase 90% afirmaram que menos de 10% de seu trabalho final contém texto gerado por IA. Por outro lado, existe uma forte resistência dos autores ao uso não autorizado de suas obras para treinar IA, sendo que 90% acreditam que devem ser compensados por esse uso e 86% acham que devem ser creditados. A maioria também não sabe se os seus contratos atuais permitem o uso das suas obras para o treino de IA.
A ideia de um sistema de licenciamento coletivo para remunerar autores é apoiado por 65% dos escritores, embora muitos preferissem que suas obras não fossem usadas por IA de forma alguma. As maiores preocupações dos autores incluem a diluição do valor da autoria humana, a possibilidade de substituição pela IA e a falta de transparência sobre o uso de IA na produção de obras. A grande maioria (91%) defende que os leitores sejam informados quando uma obra tiver participação da IA, e 94% sentem a necessidade de existir um código de conduta para o setor editorial.
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