Dia Nacional da Sustentabilidade: «O conhecimento é a base para um futuro energético mais justo e sustentável»

#1 Podem dar um breve contexto sobre o que é a Academia EVA e os seus objetivos?

A Academia EVA é uma iniciativa da DECO que disponibiliza cursos de Energia para aumentar a literacia energética dos consumidores, permitindo aprofundar os conhecimentos e as competências de forma autónoma, simples e interativa, sobre questões essenciais do seu dia-a-dia, mas de natureza complexa. O objetivo é capacitar os cidadãos para se tornarem consumidores de energia mais eficientes e sustentáveis. Nos cursos, abordam-se temas como a transição energética, o impacto do consumo de energia no ambiente, o conforto térmico das casas, os sistemas de autoconsumo, entre outros. O foco é sempre a aplicação prática: ajudar o consumidor a reduzir a sua fatura e, ao mesmo tempo, a gerar um impacto positivo no planeta.

#2 De onde surgiu a ideia de produzir cursos da Academia EVA na NAU?

A DECO é parceria da NAU e este é o nosso contributo para aumentar a oferta de formação para os cidadãos enquanto consumidores em áreas essenciais do mercado e onde estes encontram mais dificuldades, para fazer as escolhas mais acertadas. Neste caso, A DECO desenvolveu um portal de energia: a EVA – Energy Virtual Assistance, uma plataforma de informação com 4 cursos de formação para os consumidores de energia para a utilização eficiente da energia, promovendo escolhas informadas e medidas de poupança. Os conteúdos destes cursos foram também integrados na plataforma NAU para chegar a um público ainda mais vasto, garantindo que qualquer cidadão possa ter acesso gratuito e de qualidade a informação essencial para uma gestão energética mais consciente. 

#3 A DECO, enquanto associação promotora da defesa dos direitos do consumidor, deve ter uma perspetiva privilegiada sobre dúvidas e dificuldades que as pessoas possam enfrentar. De que forma os cursos ajudam os consumidores a tomarem decisões mais informadas no setor da energia?

Os cursos foram desenvolvidos por especialistas que abordam desde temas mais simples — como pequenas dicas para poupar energia em casa — até questões mais complexas, como a leitura de faturas, a escolha de contratos energéticos ou a avaliação do investimento em energias renováveis. Através desta abordagem progressiva e prática, os consumidores ficam mais preparados para tomar decisões informadas e seguras, evitando armadilhas contratuais, reduzindo custos e aumentando a eficiência energética das suas casas.

#4 Que impacto acreditam que a educação e a formação online têm na transição energética em Portugal?

A literacia energética permite que os consumidores dominem conhecimentos e adquiram competências que lhes permita tomar decisões informadas sobre o uso da energia. O estudo de literacia energética dos consumidores da ERSE, realizado em 2024, por exemplo, refere que apenas 36,1% dos consumidores conseguem identificar rubricas na fatura de energia, como sejam as taxas, impostos ou o preço da potência contratada. Se a maioria dos consumidores não compreende as componentes da sua fatura, logo à partida este pode ser um obstáculo à adoção de práticas de consumo energético mais eficientes. Além disso, o estudo indica que só 30,1% dos consumidores conhecem pelo menos um simulador para comparar preços de energia.

Assim, como esperar que possam fazer escolhas mais informadas de comercializadores de energia e encontrar tarifas mais adequadas ao seu perfil de consumo, com vista a participar na transição energética?

#5 Existe algum mito que sentem necessidade de esclarecer nestas áreas?

Sim. Um dos mitos mais comuns é pensar que a eficiência energética implica sempre grandes investimentos. Muitas vezes, pequenas mudanças de comportamento — como ajustar potências contratadas, otimizar a utilização dos eletrodomésticos ou reforçar o isolamento da habitação — podem ter impactos significativos. Outro mito frequente é acreditar que as energias renováveis estão fora do alcance dos consumidores domésticos, quando na verdade já existem soluções adaptadas a diferentes perfis e orçamentos.

#6 Que competências são essenciais para quem queira ser mais consciente e autónomo em termos energéticos?

É essencial que os consumidores com mais literacia energética possam compreender conceitos básicos de produção e consumo de energia, como funciona o mercado de energia, como saber gerir as questões relacionadas com os seus contratos, as tarifas e comercializadores. Desde modo será possível desenvolver uma capacidade de análise crítica para comparar ofertas de mercado, mudar de comercializador, saber avaliar possíveis investimentos em renováveis e, mais claramente, identificar práticas de consumo ineficientes. Só assim poderá haver um compromisso com a sustentabilidade para que sejam adotados comportamentos consistentes e informados, valorizando não apenas a poupança individual, mas também o impacto coletivo.

#7 Para além do cidadão comum, pensam que as empresas podem beneficiar dos cursos?

Sem dúvida. As empresas, em especial as pequenas e médias, enfrentam os mesmos desafios de consumo energético que as famílias. O acesso a conteúdos claros e práticos pode ajudá-las a reduzir custos operacionais, a reforçar a sua responsabilidade ambiental e a alinhar-se com metas de sustentabilidade, cada vez mais exigidas por consumidores e parceiros de negócio. Aliás, muitas empresas promovem ações de capacitação de energia com os seus colaboradores através do nosso programa formativo DECO Forma. Em muitos casos, realizámos workshops que ajudam a explorar os conteúdos online dos Cursos de Energia EVA.

#8 Portugal está a caminhar no ritmo certo para a neutralidade carbónica? Quais os desafios mais prementes?

Portugal tem feito progressos assinaláveis, sobretudo na integração de energias renováveis. No entanto, os desafios continuam a ser significativos: a necessidade de maior investimento em eficiência energética nos edifícios, a dificuldade em envolver todos os cidadãos no processo de transição ou a necessidade de reduzir a dependência de combustíveis fósseis, ainda presente em setores como os transportes. Atingir a neutralidade carbónica até 2050 exige políticas consistentes, investimento contínuo e, sobretudo, a participação ativa da sociedade civil.

#9 Recentemente, o apagão na Península Ibérica, ocorrido a 28 de abril deste ano, deixou milhões de pessoas sem energia durante várias horas e gerou uma grande atenção mediática. Acreditam que este fenómeno despertou uma maior consciência e/ou curiosidade por parte dos portugueses na procura de formação sobre temáticas relacionadas com a autoprodução de energia e sustentabilidade energética? Que principais lições devem ser retidas sobre este acontecimento?

Este episódio relembrou a todos a importância da resiliência e da diversificação das fontes de energia. Embora os sistemas elétricos sejam estáveis, situações inesperadas podem ocorrer. É provável que tenha despertado em muitos cidadãos a curiosidade sobre alternativas de autoprodução e armazenamento de energia. A principal lição é clara: precisamos de apostar em redes mais inteligentes, em soluções descentralizadas e em consumidores mais informados e participativos.

#10 Neste Dia Nacional da Sustentabilidade, que conselho dariam a quem ainda acha que a sustentabilidade é “complicada” ou “inacessível”?

Sustentabilidade está ao alcance de todos e todas e depende essencialmente de cada um de nós e do conjunto de pequenas escolhas diárias que fazemos. Qualquer pessoa pode começar com gestos simples, como desligar equipamentos em stand-by, aproveitar melhor a luz natural, escolher eletrodomésticos eficientes ou repensar os seus padrões de mobilidade. São passos pequenos que, em conjunto, e por todos geram grandes mudanças. A DECO tem uma ferramenta que ajuda os consumidores a conhecer e “quantificar” os seus comportamentos em termos de emissões de CO2e. A energia consumida na casa e nos transportes, por exemplo, fazem parte desta avaliação e, muitas vezes, este conhecimento pode ser o passo que nos motive para a mudança. Convidamos a experimentar em https://pslifestyle.eu/pt . 

#11 Têm planos futuros na NAU?

Sim, sem dúvida. Esta é uma plataforma onde devemos continuar a apostar. O objetivo é continuar a disponibilizar novos cursos e módulos que respondam às dúvidas concretas dos consumidores, reforçando a missão da DECO de promover literacia dos consumidores e capacitar os cidadãos para um consumo mais informado, responsável e sustentável.

#12 Algo que queiram acrescentar?

Acreditamos que o conhecimento é a base para um futuro energético mais justo e sustentável. O papel da DECO é estar ao lado dos consumidores, fornecendo informação clara, imparcial e aplicável ao seu quotidiano. Com mais literacia, todos podemos poupar, viver melhor e contribuir ativamente para a proteção do planeta.

A NAU é cofinanciada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).