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ArticleSocial Sciences02/21/2025
Embora o mundo possua uma enorme riqueza linguística, a realidade é que algumas delas estão a desaparecer, levando consigo uma parte da história e da identidade cultural dos seus povos. Por essa razão, em 2002, as Nações Unidas estabeleceram o Dia Mundial da Língua Materna, com o objetivo de reconhecer a relevância da diversidade linguística e cultural. A preservação das línguas deve ser tida em conta, não apenas pelo património cultural, como pelo empoderamento das minorias e promoção da diversidade.
Conheça cinco línguas ameaçadas pelo risco de extinção e saiba quais os desafios que enfrentam, bem como medidas estão a ser tomadas em prol da sua preservação.
O Mirandês, antigo dialeto Leonês, de estrutura românica com origem a partir do latim, é a única língua viva oficial em Portugal além do português. Falada principalmente na região de Miranda do Douro, no nordeste de Portugal, é uma língua de tradição essencialmente oral.
De acordo com um estudo feito pela universidade de Vigo, os falantes de mirandês rondam as 3.500 pessoas, embora apenas 1.500 o falem regularmente no dia-a-dia. Este estudo foi feito através de inquéritos realizados por uma equipa de alunos, designada por "Brigada da la Léngua" (Brigada da Língua).
A 29 de janeiro de 1999, foi publicada em Diário da República (DR) a Lei n.º 7/99 que reconhece oficialmente os direitos linguísticos da comunidade mirandesa. Apesar desta lei, o mirandês ainda luta contra o risco de extinção, uma vez que é falado maioritariamente por falantes idosos.
No entanto, há esforços para revitalizar o mirandês. A Lhéngua - Associação de Língua e Cultura Mirandesa (ALCM), “tem em curso um processo de recolha em áudio e vídeo da língua e da cultura mirandesa que já ultrapassa as 100 horas de registos, tendo objetivo de fornecer dados a investigadores da língua mirandesa e a elaboração de material para manutenção deste idioma, como a edição de dicionários”.
O Sámi, ou lapão, é um conjunto de línguas faladas pelas populações indígenas Sami nas regiões da dos Países Nórdicos (Noruega, Suécia e Finlândia) e na Rússia. Este é o único povo indígena na Europa, com ligações profundas com suas terras e culturas tradicionais.
O estudo sociológico “Um Tambos Sámi Restituído: Culturas Originárias Europeias e Colonialismo no Ártico” foca várias características deste povo e as suas línguas. Estima-se que 25.000 pessoas falem uma das várias variantes do Sámi. Estas variantes têm enfrentado desafios no que diz respeito à crescente globalização e à imposição de idiomas dominantes como o sueco, norueguês, finlandês e russo.
No entanto, “cada estado nórdico tem desenvolvido diferentes políticas para a língua”. Na Noruega, por exemplo, “há medidas para reabilitar as línguas com menos falantes através do seu ensino em jardins de infância”.
O Kashubian, ou cassubiano, falado na região da Pomerânia, no norte da Polónia, é uma língua eslava ocidental.
O artigo científico "From Discouragement to Self-Empowerment. Insights from an ethnolinguistic vitality survey among the Kashubs in Poland" revela que 108.100 pessoas declararam usar a língua cassubiano em casa, conforme o censo oficial de 2011. No entanto, esse número pode subestimar a quantidade total de falantes, já que a pergunta do censo focava no uso ativo do idioma.
Após anos de negligência e repressão às línguas minoritárias, a Polónia também aprovou, em 2005, a "Lei sobre Minorias Nacionais e Étnicas e a Língua Regional", reconhecendo treze minorias e a língua cassubiana como a única "língua regional".
Desde então, o cassubiano ganhou mais espaço na educação e na sinalização pública, embora seu uso falado ainda seja limitado. Segundo o artigo, foi realizada uma pesquisa em 2018 para avaliar a vitalidade etnolinguística (ELV) dos cassubianos e as suas atitudes linguísticas. Apesar de avanços na política linguística, ainda há desafios, como a falta de materiais educacionais e a influência de ideologias nacionalistas. O estudo também analisa como a discriminação histórica e políticas assimilacionistas afetam os falantes atuais, propondo um modelo para compreender a ELV de minorias.
O Gwich’in é uma língua indígena falada por cerca de 1.000 pessoas que continuam a usá-la regularmente nas regiões do Canadá e do Alasca.
Perante os dados que indicam um número tão reduzido de falantes, têm sido feitos esforços para revitalizar a língua, nomeadamente através do Gwich’in Social and Cultural Institute (GSCI), que inclui componentes linguísticas nos seus projetos de investigação.
Além da recolha de topónimos, história oral e conhecimento tradicional, foram desenvolvidos dicionários, programas de imersão e mentoria linguística. O GSCI também contribuiu para a criação de um currículo de segunda língua e colabora com o Governo dos Territórios do Noroeste em políticas para a preservação e promoção do Gwich’in. É no site deste mesmo Instituto que podemos encontrar estas e outras informações relevantes sobre esta língua.
A língua Yuchi, falada pela comunidade indígena Yuchi, no sudeste dos Estados Unidos, é um sistema fonético desenvolvido apenas no século XX. O facto de não ser o mais comum na região, aumenta a sua fragilidade. Caracteriza-se pela sua complexidade fonética, estrutura gramatical aglutinativa e variações de fala entre homens e mulheres.
Atualmente tem menos de 50 falantes fluentes, existindo, no entanto, esforços ativos da comunidade Yuchi para a manter viva, incluindo programas de revitalização e a transmissão intergeracional da língua entre as gerações mais velhas.
A tecnologia pode desempenhar um papel fundamental na preservação das línguas em perigo, através da disponibilização de cursos em plataformas de ensino online, como é o caso da Plataforma NAU.
Iniciativas como a Wiktionary, que documenta línguas ao redor do mundo, e apps como Duolingo, que inclui o ensino de algumas línguas indígenas, são exemplos de como a tecnologia pode ser uma aliada poderosa na preservação e revitalização dessas línguas. O desenvolvimento de dicionários ou documentação audiovisual que possam ser disponibilizados online, como vimos em casos anteriormente referidos, são também práticas essenciais nesta preservação.
É essencial que todos nós nos envolvamos na proteção da nossa herança linguística, pois, como afirma o professor Eduardo Navarro em entrevista ao Jornal UPS, "a língua é a essência de um grupo”. "Preservá-la é fundamental para manter a diversidade cultural ", conclui.
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