08/06/2025
Desde os primórdios da História, os oceanos funcionaram como espaços promotores de contacto entre povos e culturas – foram palco de trocas comerciais, migrações, confrontos e alianças, moldado o percurso de diversas civilizações. A UNESCO, através da obra História Geral da África e outras publicações sobre património marítimo, sublinha o papel das rotas oceânicas como veículos de difusão cultural e científica, particularmente entre África, Europa e Ásia, desde a Antiguidade até à modernidade.
Portugal é um exemplo paradigmático dessa centralidade oceânica. A localização geográfica e a tradição náutica do país foram determinantes durante várias fases da história, como eixo de circulação de pessoas, conhecimentos e tecnologias. Essa relevância mantém-se plena na atualidade, estando plasmada na Estratégia Nacional para o Mar (2021-2030), que define a visão de Portugal para uma economia azul sustentável e resiliente. O documento estabelece prioridades na proteção dos ecossistemas marinhos, na inovação, na literacia do oceano e valorização do território marítimo, estandoalinhado com compromissos internacionais como a Agenda 2030 e o Pacto Ecológico Europeu.
A influência do mar estende-se muito além da navegação e da economia, ocupando um lugar destacado no imaginário coletivo de diversas culturas. Ao longo dos séculos, os oceanos têm inspirado mitos, crenças religiosas, expressões artísticas e narrativas.
Em Portugal, esta dimensão simbólica é particularmente forte. O mar é presença constante na literatura – como em Os Lusíadas, de Camões. Esta ligação identitária e afetiva continua a ser explorada em várias obras literárias. A obra A Mar, de Pedro Rodrigues, reúne textos e imagens de vários autores sobre o papel do oceano na construção da cultura e da memória portuguesas.
As representações do mar na arte portuguesa refletem a riqueza dessa relação de muitos séculos. Exposições do Museu Calouste Gulbenkian têm abordado a temática marítima como eixo estruturante da identidade nacional. A exposição As Idades do Mar é um exemplo, explorando a relação entre o mar e a arte ao longo dos séculos, reunindo obras que evidenciam a importância do oceano na cultura portuguesa.
A ciência contemporânea tem reforçado a consciência da dependência inegável da humanidade da saúde dos oceanos. Como recordam as Nações Unidas, os oceanos regulam o clima, produzem mais de 50% do oxigénio do planeta, absorvem cerca de 23% das emissões anuais de dióxido de carbono resultantes da atividade humana e são o habitat da maior parte da biodiversidade da Terra.
Mas os desafios deste valioso recurso são muitos e diversificados. Segundo o "State of the Ocean Report 2024", da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO, o oceano está a aquecer ao dobro da taxa registada há vinte anos, com 2023 a apresentar um dos maiores aumentos desde a década de 1950. O relatório alerta também para a intensificação da acidificação, a perda de oxigénio e a subida do nível do mar, fenómenos que ameaçam diretamente a segurança alimentar, climática e ecológica.
Portugal, através da Estratégia Nacional para o Mar 2021–2030, define como prioridade a conservação dos ecossistemas marinhos e o desenvolvimento de uma economia azul sustentável. Trata-se de um instrumento estratégico que visa articular o crescimento económico com a preservação dos recursos marinhos, assente em conhecimento científico, inovação e cooperação internacional. A Direção-Geral de Política do Mar disponibiliza nesta mesma página o Plano de Ação e outras informações atualizada sobre a implementação desta estratégia.
A promoção da literacia do oceano é essencial para envolver os cidadãos nas questões marinhas e para garantir uma governação participada destes recursos. Em Portugal, o Ciência Viva tem desenvolvido vários recursos educativos que exploram temas associados ao mundo aquático. Um exemplo, é a página "Planeta Água", um portal educativo dedicado à importância da água na Terra, que oferece conteúdos sobre ecossistemas aquáticos, uso sustentável da água e projetos pedagógicos ligados à ciência e cidadania. Destina-se a escolas, professores e ao público em geral, promovendo a literacia ambiental e científica.
Proteger o oceano é proteger o nosso futuro comum. O oceano não é apenas um recurso natural: é um património da humanidade, espelho do passado e condição do futuro. A literacia ambiental e a ação cidadã são essenciais para garantir um futuro sustentável. Para aprofundar conhecimentos sobre sustentabilidade, a Plataforma NAU disponibiliza na edX.org, através do projeto PortugalX, o curso “Sistema Terrestre: o Bem Comum Global”, dinamizado pela Organização Não Governamental Casa Comum da Humanidade. Com uma taxa de esforço estimada de 15 horas, ao ritmo do estudante, o curso dá a conhecer as causas estruturais subjacentes à crise climáticae formas de a combater. As inscrições estão abertas até maio de 2026.
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